domingo, 17 de junho de 2012

NEM QUE A VACA TUSSA

    Trecho da estrada que liga Agra a Nova Delhi
    Novembro de 2011

NEM QUE A VACA TUSSA
Celso de Lanteuil
Antananarivo, 13 de Março de 2012

Nem que a vaca tussa
Ou a galinha voe
E o homem das cidades volte a andar descalço
Sem medo de cortar os pés

Mesmo que eu chegue em Jupiter e lá consiga habitar
O amor resista aos novos tempos
As guerras acabem
As armas desapareçam

Ainda que não haja mais lixo e a miséria venha terminar
Não mais existam crianças e velhos tristes
As doenças sejam extintas
O homem encontre sentido e seja feliz

Mesmo que os passarinhos retornem a cantar
Os jovens aprendam o significado do amor
As águas dos rios tornem-se cristalinas
As florestas envolvam o concreto e os animais vivam livres

Mesmo que a escravidão seja uma lembrança distante
Assim como não existam mais opressores
Que eu possa rezar para o meu Deus sem te insultar
E tua cor não seja motivo de dor

Seu sorriso seja verdadeiro
Exista esperança para todos
A vida torne-se muito mais longa
Os sistemas estrelares levem mais tempo para morrer

Animais, plantas, minerais existam na sua plenitude
E nossa história não seja esquecida
Mesmo assim, em algum lugar, vida e morte estarão a dialogar
A se tocar como íntimos parceiros

Nesse processo interminável, onde nossa incompreensão perdura
Nossa angústia cresce com o passar dos anos
Nossa indiferença passa a ser uma defesa frágil do inconsciente
Que a qualquer hora se desmorona como castelo de areia

Porque para se compreender tal mistério
É necessário mais da vida saber
Do amor ser conhecedor
Da nossa dimensão e missão bem entender, e sentir

Nem que a vaca tussa
Ou a galinha voe e eu chegue em Jupiter
As guerras acabem e as armas desapareçam
Mesmo que eu consiga encontrar um sentido...

Templo em Old Delhi, 26 de Novembro de 2011

2 comentários:

  1. Oi Celso, acho que agora consegui.
    Achei seu poema forte, como sempre vejo e sinto em suas falas, seja prosa, verso ou música. Vc tem um fôlego impressionate em qualquer estilo. E acredito que os lugares diferentes que tem visitado estão estimulando criações bem interessantes.Nem que a vaca tussa tem a cara e história da Índia.
    Música sim, corajosamente vc começou a postar. Parabéns! Ainda não li mas o farei com calma.
    Se me permite alguma sugestão no poema acredito que se limpar um pouco os "es", "porques" e algumas outras palavrinhas do início dos versos seu poema ficará mais sonoro. É influência da Ninfa, né! É só ver uma coisinha a mais que a gente quer canetar para enriquecer o texto. Mas fica a seu critério que é o talentoso criador.Bjs.
    Pepita.

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    1. Oi Pepita que grata surpresa! Fico feliz de receber você no meu recanto de prosa e boa conversa. Obrigado pelas gentis palavras. Muito estimulante vindo de você. Suas observações são sempre apropriadas e pelo visto, esse bom hábito que a Ninfa tanto nos estimula a fazer, também já te pegou kkk. Você tem toda razão, se nos descuidarmos deixamos aquilo que não é necessário no texto. E, como dizia o Armando Nogueira que tanta falta faz, escrever é cortar palavras. Beijo grande e volte mais vezes. Celso.

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