segunda-feira, 28 de novembro de 2016

MUROS

Photo by Celso, Amsterdam 2013
my smartphone is trying to be political!
 
"Fairphone mission is to bring a fair smartphone to the market
One designed and produced with minimal harm to people and planet"
(Designer Bas Van Abel)

MUROS
Celso de Lanteuil
Porto, 25/11/2016
 
Inspirado no tema Os muros que nos dividem, de José Jorge Letria
Guerra e Paz Editores, 2016
 
Muros, muralhas, linhas divisórias
O muro da China. O muro de Adriano
E a linha imaginária
Os muros das palavras e ideias
 
Muros, linhas divisórias, muralhas
No Atlântico, em Berlim, em Chipre e Evros
Os muros da paz de Belfast
E os muros invisíveis do Brasil
 
Há aqueles das Coreias partidas
Que apesar de irmãs, se sentem inimigas
Onde procriam arames, tijolos e pedras
Areia, concreto, medo, ódio e o preconceito
 
Florescem as muralhas no nosso século
Elas marcam, definem, proíbem e prendem
O muro do México nasceu em 1991
Ainda não parou de crescer
 
As divisões vão sendo demarcadas. Elas estão espalhadas
Uma grande vala em solo espanhol, separa o Marrocos de Ceuta
Muita gente vê. Muita gente não vê!
Pessoas morrem, ou ficam feridas, na carne e na cabeça
 
Não desistem, seguem fugitivas. O muro da Cisjordânia separa parentes
E gente amiga. Ele prende irmãos dentro de um mesmo chão
Para uns esta é a “Cerca da Segurança”
Para outros é o “Muro do Apartheid”
 
O isolamento não para e segue empurrado pela agonia
Que tenta por todos os meios, segurar os que fogem do horror
Então outro muro cresce entre a Sérvia e a Hungria
Tentando a qualquer custo, impedir o desesperado que grita 
 
Novas fronteiras se fecham
Com muros ainda maiores
E o que poderia ser uma casa para outros
Logo se mostra uma jaula para muitos

Esse tipo de muralha, se acha em tudo que é lugar
É muro muito duro, difícil de derrubar
Ele é feito de uma matéria, uma linha invisível, que nasce de um olhar
E cresce enxergando as pessoas, do outro lado de lá


 

 

 

Eu sou Elza


ELZA SOARES
Porto, Casa da Música, 24/11/2016
Celso de Lanteuil
 
O Rei não morreu
Nem o Imperador
O dono da terra, também não
 
Não acabou ainda
O servidor braçal
Até a hora final
 
Nem o político do negócio
Que serve seu protetor
E o lavrador do campo, que capina até a morte
 
O abuso, o medo, o homem que bate na mulher
A mulher que bate no marido, a criança que apanha do velho
Esse que leva uma surra do menino
 
Não acabou ainda
A contramão do poder, do ódio e preconceito
Então, um palco recebe o texto e a encenação
 
Instrumentos em comunhão
Percussão, teclados, bateria, guitarras  
Uma diva nacional, defende sua história com a voz
 
Ela representa muitas lutas
A carne mais barata que canta
A joia rara num mercado negro    
 
Não acabou
A mulher que conquistou sua alforria cantando
Vai fazendo bem o seu papel
 
E canta, e canta, e diz, e canta
E segue abrindo caminhos com a voz
E eu, sempre que posso, aplaudo