quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

NATAL E BRINQUEDOS QUE MATAM



London, 28/07/2013
Summer Holiday, Olympic Scene
Brinquedos que matam pensamentos idiotas

Celso de Lanteuil
Escrito e lido no Pinguim Café, 18/12/2018


Já passei muitos natais entre espadas, revolveres e metralhadoras

Matei muitos inimigos! Matei e morri muitas vezes

Ouvi gritos perante a morte

Gente a chorar, rastejar e pedir perdão

Bárbaros, gladiadores, índios, nazis, cowboys e marcianos


Com 6, 8 anos, passei a gostar de matar

Foi o dia em que meu irmão fez a vez do morto

Vi na sua morte, um grande desfecho

Um todo gestual que valorizou aquele final


Pois o fim merecido daquele covarde matador

Cuja espada já havia atravessado duas ou três vezes

Meu irmão transformou, num instante magistral


A espada que encontrei na árvore do Pai Natal

Fez sangrar o meu irmão que vi rolar pelo chão 

Com uma dramaticidade que me comoveu

E me convenceu que não era assim tão mal fazer o papel do morto

Ainda mais se atravessado, pela espada prenda do bom velhinho


Porto, 12/10/2013
Feira do Livro, Palácio de Cristal
Atenção: Alguns destes "brinquedos", podem matar a estupidez


sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

NATAL 2018

Paris, quarto de hotel, 18/02/2012

Celso de Lanteuil
Escrito e lido na Biblioteca Municipal de Maia
Maia, 15/12/2018 
A sala está fria
O piso é frio
A cadeira gelada
Todos usam casacos, echarpes e mantas
A alegria se faz tímida. É o frio, é o frio …

O Natal se aproxima 
Para muitos, a mesa será farta
Com prendas, risadas, o calor de uma lareira
A casa aquecida, amigos a contar histórias
A cantar e celebrar o viver 

A desejada paz lá estará, por algumas horas que seja…

Outros muitos estarão abraçados ao frio
Não o frio de uma sala sem calefação e de uma cadeira gelada
Do piso que abriga e da sopa fria que alguém tem nas mãos 
Estes tantos outros, estarão entranhados no gelo 
Dedos, nervos, juntas, olhos, pensamentos
Fé, sentimento, sonhos, tormentos, expectativas, cravadas, chão adentro
Presos por um tipo de desinteresse
Distanciamento que muitas vezes renasce e se fortalece no Natal
Natal que ora é crença, por vezes fantasia, tradição, ou o gelo da indiferença