terça-feira, 13 de outubro de 2020

IT'S ANOTHER DAY


Hi friends, next friday the 16th, I'll be sharing a new song, It's another day! 
I hope to see you around.
Cheers, (After that, the audio and images will be continuously available for you)

Salve amigos, na próxima sexta-feira estarei compartilhando uma nova composição de minha autoria.
Conto com a força de vocês.
Até breve,
Celso DL (após o lançamento a gravação estará permanentemente disponível para visualização)

O Senhor dos Cordéis

Museu do Design e da Moda de Lisboa
Foto de celular, Setembro de 2012


O SENHOR DOS CORDÉIS
Inspirado pela poesia de Thomas Bakk
Celso de Lanteuil
Porto, 25 de agosto de 2020
 

Ele não é o senhor dos Anéis, é O Senhor dos Cordéis!
Aquele que já viu nesse mundão, uma mãe com o facão na mão
Diante dos olhinhos secos das crias
Sem saber como dividir, a gota d’água que brilhava como se oceano fosse;
 
Falo daquele que encontra luz, luz numa cabeça bem presa
Presa numa muralha de medos, sempre usando capuz
Indo e voltando a lugar algum, cuspindo prego, espinho
Coisa azeda, detrito de todo tipo;
 
Você mesmo, Senhor do Cordel, que por tantos caminhos já cruzou
E que o lugar-comum visitou, como faço eu nessa hora
Repetindo o que já foi tão repetido, dando também minhas voltas
Nesse círculo onde sempre se retorna, não importa o dia nem a hora;
 
Vou dizer da minha maneira, do jeito que me cabe fazer
Quando no meio de tantas vias, nos variados momentos da vida
Cercado de assombração, Belzebu, Chupa Cabra, Candirú e proteção
Vendo nascer nesse mundo tanta genialidade, progresso, maldade e farsa
Li o que esse repentista escreveu e repito que "a melhor saída para a paz
Está sempre dentro de nós
";
 
Segue trovador dos desertos, carregando palavras por onde passa
Entre gente que muito da vida entende, só que de um modo diferente
Pois se eles não tem chance, nem tempo para ler
Sejam as histórias das Mil e Uma Noites, os casos de Malba Tahan
As peças de Shakespeare e os pensamentos de Serapião de Tmuis
Os Poemas de Pessoa, Drummond, Brecht, Rimbaud, Neruda e muitos mais;
 
Essa gente tem também saber, conhecimento que entra numa cabeça quente 
Pelas mãos feridas e a boca seca da sede, através dos pés descalços no chão!
E no meio de tanta confusão, pânico, pandemia, pandemônio, hemorragia
Nostalgia dos tempos que já foram bão, vou te deixar um abraço…
Abraço de um homem que gosta de beijos, que detesta inveja, desfeita
Injúria, violência, covardia, falta de opinião e desconsideração;
 
Aqui vai o meu agradecimento, um apanhado de ideias
Esse arrazoado de intenções, num angu de provocações
Direto para o Thomas, o Thomas Bakk, nosso atleta de ouro da imaginação
Um valente da criação, brigão genial, com palavra para qualquer posição
Representante dessa internacional riqueza regional que é o Cordel Tupiniquim
E talvez vocês cheguem a uma conclusão
Quem foi que nasceu primeiro, Bakk ou o Senhor dos Cordéis?


Exposição no Barbican Centre, A chuva que não molha
London, 11/2012



segunda-feira, 11 de maio de 2020


Sérgio Sant’Anna, 11 de maio de 2020

Se ninguém vai falar, falo eu. Soube nessa madrugada do passamento do Sérgio. Além da lamentável perda para seus familiares e amigos, Sérgio deixará um grande vazio para os admiradores da sua arte, onde me incluo entre estes e em relevância nacional para a literatura brasileira, onde fará enorme falta.

Me arrisco a dizer, apesar da minha distanciada relação pessoal com o escritor que o Sérgio sempre foi um democrata que lidava muito bem com o contraponto das ideias. Um independente no campo do pensamento e da cidadania.

Entre as diversas áreas em que atuava, ele foi também professor na Estação das Letras e foi lá que tive a felicidade de poder contar com sua generosidade, nos diversos cursos que lá participei como seu aluno. Sua crítica didática e construtiva, além das dicas de autores que ele entendia iriam enriquecer (Edgar Allan Poe) a minha escrita, aumentaram ainda mais a minha ligação com a sua obra.

No início de março passado, encontrei e comprei um livro do Sérgio, Um Romance de Geração, edição da Civilização Brasileira, na banca de promoções da livraria Prefácio, em Botafogo, lugar que frequento desde que abriram. Ao primeiro contato com aquele exemplar usado, me assustei com o simbolismo daquela cena. Uma livraria lutando para sobreviver, abraçada a um livro de segunda mão de um dos nossos melhores contistas vivos, um pequeno tesouro para aqueles que gostam de ler bons textos, largado numa banca de livros por um preço qualquer. Imediatamente me lembrei do Sérgio e tentei imaginar o que ele poderia comentar: Será esse o nosso eterno destino? Será esse o preço que um livreiro, editor e autor terão que aceitar para perpetuar o conteúdo desse seguimento da nossa cultura?

Li a seguir Um Romance de Geração e acabei por não compartilhar aquele momento com ele. Quanto aprendizado! A pouco fui verificar os livros que acabei por ler do Sérgio e entre estes coloquei a vista sobre O Monstro, O Vôo da Madrugada (O Gorila!), O Homem Mulher (Lencinhos), 50 Contos e 3 Novelas, O Concerto de João Gilberto, a Breve História do Espirito (ainda por ler) e encontrei A Senhorita Simpson (O Duelo) autografado por ele em 19/01/2005.

Sei que é prematuro se falar na dimensão da sua produção literária, mas na minha modesta percepção, digo que Sérgio Sant’Anna levou a nossa rica literatura a alcançar um melhor nível, principalmente por sermos um país que tem por tradição fechar livrarias, editoras, bibliotecas e pouco investir em novos autores. Isso realmente é um feito extraordinário. Gratidão, Mestre.  

Em ambas as fotos, algumas das suas obras


domingo, 22 de março de 2020

Duas ou três gotículas


Duas ou três gotículas
 
Praça Edmundo Bitencourt, mais conhecida como Bairro Peixoto
Fevereiro de 2019, após chuvas que derrubaram mais de 400 árvores na cidade
Foto de celular Nokia 5
Copacabana, Rio de Janeiro

Porto, 21 de março de 2020
Duas ou três gotículas
Celso DL

Foram precisas, duas, três gotículas…
Imperceptíveis respingos
Um salpicar desprezível ao olhar
Borrifar contaminado pela vontade de persistir

Invisível vida, impalpável força
Cuja dimensão de seu vigor
Desarmou a todos
Donos do poder, exércitos, súditos, mentes brilhantes, desatentos…  

Foram precisas, duas, três gotículas
Incansáveis, minúsculos borrifos
Para mexer com a certeza de uma ordem
E a convicção, de toda uma organização de civilizações

Estrutura que diante dessa fria incerteza
Viu tremer suas bases
Numa progressão exponencial
A desconstruir os símbolos de uma era!

Um fluxo que deixou desmoralizada a logica que define tantas regras
As leis, as obrigações, os direitos, os acordos internacionais
Os valores morais, a ética de um povo, sua empatia, seu egoísmo
Seus costumes, aquilo que se pode ser e que se deve ter

Aquele que sairá vencedor, o outro que tudo irá perder
A roupa certa para vestir, o linguajar adequado, a etiqueta
Os ritos sociais entre pares, os protocolos entre irmãos
A hipocrisia do sorriso formal, a mentira oficial

A descoberta da fragilidade, diante de uma invisível partícula
Que chacoalhou essa intocável estrutura que a todos governa
E a fez estremecer de medo
Por pouco saber do próximo imprevisível ato

Desse ir e vir não autorizado
Que na rebeldia de prosseguir sua jornada de vírus
Segue destruindo vidas, sistemas e convicções
Pela via de duas, ou três gotículas