Sérgio Sant’Anna,
11 de maio de 2020
Se ninguém vai
falar, falo eu. Soube nessa madrugada do passamento do Sérgio. Além da lamentável
perda para seus familiares e amigos, Sérgio deixará um grande vazio para os admiradores
da sua arte, onde me incluo entre estes e em relevância nacional para a
literatura brasileira, onde fará enorme falta.
Me arrisco a
dizer, apesar da minha distanciada relação pessoal com o escritor que o Sérgio sempre
foi um democrata que lidava muito bem com o contraponto das ideias. Um
independente no campo do pensamento e da cidadania.
Entre as
diversas áreas em que atuava, ele foi também professor na Estação das Letras e
foi lá que tive a felicidade de poder contar com sua generosidade, nos diversos
cursos que lá participei como seu aluno. Sua crítica didática e construtiva, além
das dicas de autores que ele entendia iriam enriquecer (Edgar Allan Poe) a
minha escrita, aumentaram ainda mais a minha ligação com a sua obra.
No início de
março passado, encontrei e comprei um livro do Sérgio, Um Romance de Geração,
edição da Civilização Brasileira, na banca de promoções da livraria Prefácio,
em Botafogo, lugar que frequento desde que abriram. Ao primeiro contato com aquele
exemplar usado, me assustei com o simbolismo daquela cena. Uma livraria lutando para sobreviver, abraçada a um livro de segunda
mão de um dos nossos melhores contistas vivos, um pequeno tesouro para aqueles
que gostam de ler bons textos, largado numa banca de livros por um preço
qualquer. Imediatamente me lembrei do Sérgio e tentei imaginar o que ele
poderia comentar: Será esse o nosso eterno destino? Será esse o preço que um
livreiro, editor e autor terão que aceitar para perpetuar o conteúdo desse
seguimento da nossa cultura?
Li a seguir Um Romance
de Geração e acabei por não compartilhar aquele momento com ele. Quanto
aprendizado! A pouco fui verificar os livros que acabei por ler do Sérgio e
entre estes coloquei a vista sobre O Monstro, O Vôo da Madrugada (O Gorila!), O
Homem Mulher (Lencinhos), 50 Contos e 3 Novelas, O Concerto de João Gilberto, a
Breve História do Espirito (ainda por ler) e encontrei A Senhorita Simpson (O
Duelo) autografado por ele em 19/01/2005.
Sei que é
prematuro se falar na dimensão da sua produção literária, mas na minha modesta
percepção, digo que Sérgio Sant’Anna levou a nossa rica literatura a alcançar
um melhor nível, principalmente por sermos um país que tem por tradição fechar
livrarias, editoras, bibliotecas e pouco investir em novos autores. Isso
realmente é um feito extraordinário. Gratidão, Mestre.
Em ambas as fotos, algumas das suas obras