Cabeça e Chão na UNICEPE
Convite elaborado pela designer gráfico, Iandara Nery de Lanteuil
Foi um privilégio poder contar com o estímulo e apoio logístico do amigo Rui Vaz e equipe, para lançar Cabeça e Chão na tradicional livraria UNICEPE da cidade do Porto, Portugal, dia 3 de março de 2016, ao lado dos amigos Rui Spranger e Eduardo Leal que leram trechos de alguns dos meus contos. Também sou muito grato aos queridos amigos e amigas que lá se fizeram presentes, tornando essa experiência ainda mais valiosa e inesquecível.
Trecho do conto Merda
... mas Adelaide queria mesmo era trabalhar para
ganhar seu próprio sustento. Só que não é nada
fácil conseguir o primeiro emprego quando se é
jovem, sem qualificação, experiência e padrinho
para dar um empurrão. Assim, agarrou o trabalho
que a oportunidade lhe ofereceu.
– Sabe cozinhar?
– Feijão, arroz, suflê de cenoura. Empadinha de queijo. Empadão de camarão. Galinha ao
molho pardo, tutu à mineira. Rabada, cozido. É
só pedir que eu faço.
– Prendada, a moça.
– Sei me virar.
– Aprendeu com quem?
– Vendo e ajudando mamãe, titia, vovó...
– Documentos?
– Fui roubada logo que cheguei. Estou providenciando a segunda via.
– Vai começar como assistente. Lavando
panelas e pratos, cortando legumes, descascando
batatas. O salário é o mínimo, mais a divisão da
caixinha. A clientela é fiel e sempre deixa uma
boa gorjeta.
– Aceito.
Começou num botequim em Copacabana.
Chegava às oito e, na maioria das vezes, ajudava o patrão a fechar o bar, nunca antes da meia-noite. Acabou metendo a mão no fogão. Agradou a
freguesia. O cozinheiro, um nordestino de pouca
conversa, é que não gostou do sucesso que ela fez.
Perdeu a importância e deixou o recalque transparecer. Trabalhavam num espaço em que mal cabiam. Volta e meia, viam-se rosto a rosto. Esbarravam-se com frequência numa rotina que ajudou a
diluir a raiva que o cozinheiro inicialmente nutria
por ela. Aquele “esbarra-esbarra” criou uma intimidade prazerosa e eles gostaram disso.