segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sobre quem ainda somos

 
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Conversando com DaMata
Celso de Lanteuil
World Press Photo, 06 of June 2013

Amigo DaMata,
 
Para ser franco, as coisas por aqui continuam muito parecidas
As pessoas pouco mudaram
Não importa a nacionalidade, raça, cultura ou credo
Elas não suportam enxergar a realidade que machuca
Preferem o nascer do Sol, a primavera que chega
Bebês a sorrir, namorados a caminhar de mãos dadas
A água da lagoa que acolhe uma família de patos...
 
Eu também sou um pouco assim
Tenho essa vocação para celebrar e admirar a beleza que existe na vida e no viver
Gosto de sorrir e cantar
Observar estrelas, ondas a quebrar
Ver coelhos a correr nos gramados
Buscar a felicidade e nela me agarrar
 
Só que há ocasiões que é preciso atenção e cuidado naquilo que se diz
E na forma como vivemos
Em respeito a vida
Para se respeitar o próximo
 
O sucesso de alguns não é a felicidade de muitos
A paz que acalma uma nação não é a garantia da tranquilidade de outros povos
O conforto que experimentamos, a riqueza de uns poucos
Não impede a vida de seguir numa constante explosão de distorções
Onde a fome, o medo e o sofrimento são as únicas realidades a se tocar
 
Por isso lhe digo amigo
As coisas seguem bem semelhantes dos tempos em que por aqui viveu
Continuamos a perseguir bundas, peitos e labios
Paramos diante do espelho para analisar rugas, celulites, estrias
E o que podemos fazer para recuperar o tempo que passou apressado
Usamos pulseiras, brincos, argolas e colares
Pintamos os cabelos, implantamos cilicone para aumentar os seios
Fazemos cirurgias para diminuir a barriga e outras loucuras para perder peso

Queremos ter um pau ainda maior!
Dirigir Ferraris, usar relógios de 10.000 pounds
Morar em casas com 20, 50 quartos
Beber vinhos de 3.000 euros
Vivemos assim naturalmente
Sem perceber, queremos comer e beber ainda mais
Quando fartos, largamos a mesa cheia de restos
Sobras que fariam a festa de tanta gente

Meu amigo, ouve um tempo em que acreditei que evoluíamos
Certas liberdades conquistadas, muros derrubados
Transplantes que nos permitiram viver mais e melhor
O início da conquista do espaço e os avanços que vieram a reboque
Foram tantas inovações!
 
Novos telescópios, lentes, alimentos hidratados, computadores
Robôts mais inteligentes, microscópios de alta resolução
Bicicletas ergométricas, esteiras para mantermos a forma
Satélites, inerciais, GPS, LCD e mais, muito mais
 
Houve um momento que essa tecnologia me seduziu e pensei
Esse homem vai crescer. Ele vai aprender a equilibrar, a cuidar e a corrigir
Mas volta e meia descubro que andamos para trás
Parece que aquela vocação primitiva
Nossa velha tradição de resolver tudo com sangue nas mãos e coração
Não nos deixa amadurecer em paz...
 
Então basta o acaso para nos fazer olhar de outra forma esse Sol que volta a nascer
Num piscar, proliferam favelas, valas negras e mais trabalhadores a dormir pelas ruas
Entregamos num sinal nossa liberdade para pagar um viciado em ódio
Assistimos outros vícios surgir
A justiça se apropriar dos nossos direitos
O pior dos políticos receber honrarias de estado
Uma população tornar-se refém de políticas assistencialistas
Eleitores serem obrigados a votar sem convicção
 
E falar nessas coisas faz a intransigência surgir
Rompe a fina parede que separa direitos, que impede o olhar crítico
Logo amigos nos chamam de legalistas, radicais, inimigos ou pessimistas
Dizem que estamos cegos porque perdemos os empregos
Porque levaram nosso fundo de pensão
E nem a indenização do trabalho conseguimos obter
 
Mas nossa intolerância tem direção
Somos assim porque paramos para observar, ler, analisar, pensar e sentir 
Porque não aceitamos cuecões, mensaleiros, sindicalistas pelegos
Anarquistas, nem golpistas
Amigo DaMata, lembra daqueles sujeitos com duas caras que um dia sobre eles conversamos
Continuam por perto a defender o sustento deles em cima das nossas mortes
Se cuida aviador, porque aqui na Terra ainda precisamos de corpos para existir!
Será que algum dia isso muda?

Photo by Ebrahim Noroozi
1st Prize Observed Portraits Stories,
World Press Photo 2013, Amsterdam
selected among 103.481 images

Somayeh (29) and Rana (3), mother and daughter, living in souther of Iran
They were attacked with acid by husband Amir
Somayed was blinded and Rana lost one of her eyes  

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Brasil tenta mudar nas ruas...


A RUA É NOSSA
The poor and money, 1882
Van Gogh Museum

Brasil tenta mudar nas ruas...
Celso de Lanteuil
Em algum lugar do globo, 25-06-2013
 
A rua é nossa!
Não há gás, spray pimenta
Truculência que nos cale a voz
 
Chega de promessas eleitorais
Queremos mais e melhor, grita o povo
Padrão FIFA nas escolas, transportes e hospitais
 
Serviços, tarifas, segurança
Cidadania de primeiro mundo...
Brasil sem favelados, escravos e explorados
 
Cura para os políticos já!
Reforma na casa maior. Faxina na política nacional
Parlamentar com salário e nada mais
 
Queremos nossa identidade. Sermos menos desiguais!
Nas oportunidades, na aposentadoria
Justiça para todos. Juízes e politicos ficha limpa...
 
As ruas pedem mudanças. Por toda parte o povo clama
O recado está dado, é também para nós
Contra as práticas do toma lá da cá
 
Contra o silêncio das conveniências
Brasil para todos
Pessoas, a razão dessa nação




segunda-feira, 12 de agosto de 2013

GREVE DE FOME DO JOSÉ MANUEL

Foto do fotógrafo Paulo Resende

GREVE DE FOME DO JOSÉ MANUEL
José Manuel faz greve de fome no aeroporto Santos Dumont
Celso de Lanteuil
Algum lugar do globo, 11 de Agosto de 2013
 
Um homem tenta chamar atenção
Corpo idoso, cansado de esperar
É cidadão brasileiro
Já teve importância na construção do país
 
Trabalhou na VARIG. Produziu, gerou riqueza
Fez o Brasil atravessar o planeta
Ele não acredita nas autoridades
Não vê sentido nessa nação
 
De um lado beleza, riqueza, saúde e risos
Do outro o frio da indiferença
Ele faz sua greve de fome
Desesperado ato para chamar atenção
 
Não quer favor
Não quer perdão
Não deseja inspirar compaixão
Quer o que lhe é de direito
 
O investimento da sua previdência
A garantia do seu AERUS
Já se vão mais de sete anos
Desde então, muitos colegas morreram
 
Ele vendeu o patrimônio
Doou seu melhores anos
Por isso faz greve de fome
Não quer virar estatística desse enorme descaso
 
José Manuel quer chamar atenção
Corpo idoso, cansado
Não quer favor, não deseja inspirar compaixão
Prefere a morte digna no saguão do Santos Dumont
 

 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

MINHA PERSONAGEM

Entrando em terras espanholas após cruzar o Golfo de Vizcaya
Maio de 2013

MINHA PERSONAGEM
Celso de Lanteuil
Rio de Janeiro, 05 de Abril 2013
Ouvindo Creedence Clearwater Revival
Who'll Stop The Rain

Minha personagem é uma novidade
Anda de passagem
Não se faz notar
É da Terra, tem raíz em qualquer lugar

Compreende muitos idiomas
Se entende bem com quem quer falar
Tem vocação para se adaptar
Acha que o céu é azul para todos!

Nesse ir e vir, descobre o mundo
Uma terra disforme, irregular
Apressada, povoada e usada
Conhece o outro lado, ainda virgem

Sabe que existem diferenças
Enormes distâncias separam
Homens, animais, vegetais
Minerais e outros mais

Seu olhar não deixa nada escapar
Vê o agora, passado e amanhã
Enxerga quem fomos, quem somos
Imagina quem poderemos ser

Se assusta com a altivez dos homens
Sua angústia, medos, desejos e saber
Minha personagem tem medo
Dos horrores que nascem e amadurecem

Da sujeira que cresce e não desaparece
Dos desperdícios
Do indisfarçavel ignorar
Grita socorro, mas não sabe quem procurar

Diante da miséria que se alastra
Da violência que desta nasce
Da ignorância que aumenta
E faz nascer exploradores e escravos

Face a face com fanáticos alucinados
Consumidores desvairados
Governantes aloprados
Ela chora...

Senhora atravessa uma rua em Lagos, Nigéria
Fevereiro de 2013


quarta-feira, 8 de maio de 2013

UMA CRIANÇA

Crianças jogam bola descalças
Cidade Velha, Ilha da Praia
Cabo Verde, 04 de Maio de 2012
 
UMA CRIANÇA
Celso de Lanteuil
Porto, 28 de Outubro de 2012
 
Uma criança diz
Você é infeliz!
O pai responde
Bobagem sua
Ela insiste
Eu sei porque
 
Ele pergunta
Por que?
Sem vacilar
Conhecedora do assunto
Conclui
Você só sabe trabalhar

OUTRA CRIANÇA
Celso de Lanteuil
Porto, 28 de Outubro de 2012
 
Olha pra a mãe e reclama
Você não gosta de mim!
A mãe reage dando atenção

Faz carinho
Fala com beicinho 
A menina não quer saber de explicação

Esperneia, chora sem razão
A mãe pondera, explica
Tenta de outro jeito

Nada da resultado
Ela grita mais alto, chora outra vez
E repete, você não gosta de mim!

Hora do recreio
Cidade Velha, Ilha da Praia, Cabo Verde
 

354 CANVASES


The Holy Family, 1634
Rembrandt van Rijd
 
THIS IS REMBRANDT
354 CANVASES
Celso de Lanteuil
Amsterdam, 27-04-2013
 
Colour, shadow and light
Fear, pain, swords, arrows
A head decapitated
Turbans, self-portrait
Emotional states in front of the mirror
To better understand the expression of man
 
The praying woman, the soldier
The Apostle Paul in prison
The bust of an old sir, the Good Samaritan
Andromeda, Simeon’s song of praise!
David with the head of Goliath
Jeremia lamenting the destruction of Jerusalem
 
An old woman reading
The raising of Lazarus
Samson betrayed by Delilah
The power of imagination
An amazing spatial orientation
The inevitable atmosphere is created
 
Combined, light, shadow, colour and soul
The portrait of so many
Men, women, Princes…
The anatomy lesson of Dr Nicolaes Tulp
King Uzziah with leprosy
The rape of Europa
 
A bachelor
Nymphs bathing with Diana
Another self-portrait, again, again and again
Christ in the storm, suffering on the Cross
Entombment
Resurrection and ascension
 
The abduction of Ganymede
A beautiful boy took by Zeus to Olympus
Into an eagle’s shape!
Abraham’s sacrifice
Philistine soldiers blind Samson
Flora, Minerva, a man in oriental dress
  
Young wife Saskia
Maria on a trip
Another portrait, again and again
The night watch
A huge canvas, one of so many
A slaughtered ox
 
Different faces, landscapes
Angels, glory and disgrace
A history of studies
Time makes us realize
How essential art it is
For the evolution of man
Representing reality
Samson overpowered by the Philistine soldiers
 

terça-feira, 7 de maio de 2013

QUE ARTE É ESSA

Jaqueline no piano e Liliane no vocal
Fazendo Arte, Paquetá, Abril 2013
 

QUE ARTE É ESSA…
Celso de Lanteuil
Salamanca, 02 de Janeiro de 2013
 
Que arte é essa que faz pintura virar depoimento
Ferro tornar-se movimento
Vidro modificar o momento
Moldura valorizar o instante
Bronze eternizar um beijo
Máscara ocultar o proibido?
 
Arte que nasce do homem
Desde o primeiro expressar
Que vai se transformando e mudando
Com esse curioso humano
Obscuro, rude, ignorante, assustado
Que segue diante do Sol...
 
Vai artista, atento sem saber
Amolecendo o bruto que há em você
Errando para aprender
Dominando para conquistar, conquistando para ser
Amando e odiando. Plantando e destruindo
Libertando e sufocando
 
Vai nascendo e crescendo
Malabarista inventor!
Persistente em alguma dor
Nesse caminhar de extremos
Onde de tudo aprendemos
E desaprendemos num piscar
 
Mago da criação, usa da imaginação
Insiste com a madeira a fazer seu documento
Arame, prego, espinho
Corrente, papel, ouro, metal
Vai deixando seu registro, não importa se desigual
Do que amou, lutou, sofreu, perdeu ou ganhou



Em frente mágico da vida
Quer no mármore, argila, azulejo
Esmalte, restos de papelão e latão
Produz sua expressão
Para que outros possam sentir
Esse pulsar que não para de seguir
  
Desse modo vai. Construindo e desconstruindo
O velho e o novo, se agarrando e partindo
Numa outra forma de dizer
De cantar, fazer rir ou chorar
Retratando a experiência da vida
Esse ritmo que não pode parar



The Potato Eaters, Van Gogh Museum
Amsterdam, 03-2013