segunda-feira, 13 de outubro de 2025

 Um Rio em Cores
Texto feito para o Sarau Poesia Andarilha
Celebrando a primavera no Rio de Janeiro, 03/09/2025

Praça do Bairro Peixoto
Árvores em tratamento
 Copacabana, 31/05/2018

Um Rio em Cores

A cidade acordou em cores
Calçadas abraçadas pelas flores
Namorados a sorrir e cantar
Afetos soltos no ar;

Mutantes a passar
Como fazem as ondas no mar
Num corre-corre de corações 
Querendo se libertar;

Passos que parecem bailar
As árvores dizem não ao asfalto
Elas crescem para o céu
Trazem suas folhas e frutos;

Flores que colorem as pessoas
Um jardim suspenso se faz
Manacás, quaresmeiras roxas
Ipês roxos e amarelos

O Flamboyant e seu vermelho-alaranjado
Trepadeiras tropicais, cachos da Lágrima-de-Cristo
Hibiscos, Buganvílias
Flores da Mata Atlântica;

Orquídeas a inventar o paraíso
Bromélias colorindo caminhos
Azáleas que invadem sentimentos 
Roxas, rosas, brancas e vermelhas;

Uma estação em cor e variados aromas
Contaminam quem por aqui passa
E fazem o medo sorrir
E fazem a dor colorir


Lá no Meio da Estrada uma Criança
Interpretação de uma fotografia de multidão
Estação das Letras, grupo de estudos supervisionado por Ninfa Parreiras
23/01/2003 

Crianças jogam bola na Ilha da Praia
Cabo Verde, 04/05/2012 

Eles foram chegando
Davam as mãos
E um a um faziam a roda rodar
E cantavam cantigas

Escravos de Jó…
É noite de São João
Carneirinho, carneirão, neirão, neirão
Cai cai balão, cai cai balão

A diversão ganhava coro
Novas vozes, novos olhares
Atentos, curiosos
A correr, a saltar 

Rostos pequenos, olhares bem vivos
Corpos a pular, gritos atrás de uma pipa
Crianças afoitas a seguir a bolinha de sabão
A pescaria, o tiro ao alvo, a corrida do saco 

Um balanço a baloiçar
Uma confusão de gente que de tanto brincar
Não viram a barba crescer
Os cabelos embranquecer

Não perceberam os seios ganharem volume
A voz engrossar  
A responsabilidade chegar
A vida se transformar em obrigação 

Lá no fundo, bem no fundo
A imaginação fazia o tempo parar
A criançada seguia a acriançar 
O adolescente a enamorar-se
 
Na profundeza de cada um, o tempo da meninice
Se brincava de ser adulto responsável, sério
E veio o tempo de dar as mãos e encostar os rostos  
De pisar num chão que não era chão, era mar 

Onde um violão se transformava numa paixão
Aquele amor distante, inatingível, abraçado
Romance de cinema
Sonho de sonhador

Lá no meio da estrada, o mundo era um coração
O desejo ingênuo, a imaginação
As primeiras festas, o primeiro beijo
Um corpo a deixar o solo que nem faz um balão

Leve, solto, sem direção 
Um sorriso dono de um mundo
Uma fantasia de vida
Onde vivia e vive uma criança