Lá no Meio da Estrada uma Criança
Interpretação de uma fotografia de multidão
Estação das Letras, grupo de estudos supervisionado por Ninfa Parreiras
23/01/2003
Crianças jogam bola na Ilha da Praia
Cabo Verde, 04/05/2012
Eles foram chegando
Davam as mãos
E um a um faziam a roda rodar
E cantavam cantigas
Escravos de Jó…
É noite de São João
Carneirinho, carneirão, neirão, neirão
Cai cai balão, cai cai balão
A diversão ganhava coro
Novas vozes, novos olhares
Atentos, curiosos
A correr, a saltar
Rostos pequenos, olhares bem
vivos
Corpos a pular, gritos atrás de uma pipa
Crianças afoitas a seguir a bolinha de sabão
A pescaria, o tiro ao alvo, a corrida do saco
Um balanço a baloiçar
Uma confusão de gente que de tanto brincar
Não viram a barba crescer
Os cabelos embranquecer
Não perceberam os seios ganharem
volume
A voz engrossar
A responsabilidade chegar
A vida se transformar em obrigação
Lá no fundo, bem no fundo
A imaginação fazia o tempo parar
A criançada seguia a acriançar
O adolescente a enamorar-se
Na profundeza de cada um, o tempo da meninice
Se brincava de ser adulto responsável, sério
E veio o tempo de dar as mãos e encostar os rostos
De pisar num chão que não era chão, era mar
Onde um violão se transformava
numa paixão
Aquele amor distante, inatingível, abraçado
Romance de cinema
Sonho de sonhador
Lá no meio da estrada, o mundo
era um coração
O desejo ingênuo, a imaginação
As primeiras festas, o primeiro beijo
Um corpo a deixar o solo que nem faz um balão
Leve, solto, sem direção
Um sorriso dono de um mundo
Uma fantasia de vida
Onde vivia e vive uma criança
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