FLAMENGO E VASCO COM 4 HORAS DE FUSO A MAIS
Celso de Lanteuil
Porto, 19 de abril de 2025
Assistir o Flamengo jogar contra o Vasco, um clássico do futebol nacional, principalmente para torcedor carioca, vale qualquer sacrifício pois sobram histórias para se compartilhar entre amigos e adeptos dessa tradição esportiva. E, apesar da indústria despudorada que explora e manipula atletas, profissionais do esporte, grupos de pessoas e comportamentos, dos gestores “politiqueiros” que fazem negócios bilionários, dos marqueteiros sem limites éticos e de torcedores fanáticos e raivosos, o futebol segue emocionando multidões e mexendo com a paixão de tanta gente, inclusive a minha.
Muito já se falou e se escreveu sobre o futebol, e sobram bons livros de consagrados autores como Mário de Andrade, Mário Filho, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Eduardo Galeano, a lista é de fato grande. Tudo para nos contar casos curiosos sobre o esporte Bretão, razões suficientes para que o futebol siga sendo estudado com a devida seriedade que demanda, seja por antropólogos, sociólogos, cientistas sociais, psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, historiadores, profissionais de ciência politica, da área de educação física, do direito e jornalismo desportivo, da gestão de recursos humanos e outras especialidades mais pois são muitos os interessados que desejam ter voz, inclusive aqueles que odeiam o futebol e veem neste um caminho para a alienação, e muitas vezes uma máquina de manipulação política e de controle da cidadania.
Retornando ao jogo de ontem que teve as tradicionais tensões de um grande drama e respectivas fortes emoções, deixarei a análise do jogo para os analistas esportivos e vou me ater a minha condição de expectador, que tentava através de um “streaming” (plataforma de transmissão em tempo real) gratuito, assistir o jogo, ocasião em que me deparei com uma verdadeira batalha enquanto tentava baixar o conteúdo anunciado como grátis.
Entre bloqueadores que não permitiam o meu acesso a transmissão da partida, os constantes “sites” de apostas, a venda de produtos inclusive de pornografia que me assediavam, passei todo o primeiro tempo do jogo em intermináveis tentativas para obter a tão desejada imagem, enquanto conseguia escutar a transmissão através de um radio digital, versão moderna do antigo radio de pilha que conheci quando era criança e que faziam parte das rotinas nas residências, bares, parques e praias, e também no então maior estádio de futebol do mundo, o nosso Maracanã.
Conforme minha irritante insistência encontrava uma cada vez maior resistência para lidar com aquela intermitente estabilidade, quiçá devida ao acesso em simultâneo de milhões de torcedores do Flamengo e Vasco, além daqueles que torcem contra, estes espalhados pelo planeta, no início do segundo tempo quando já aceitava bem aquela situação, meu filho surgiu na sala e resgatou minha dignidade, removendo aquele sentimento de frustração que tanto me atormentava, quando finalmente conseguiu desbloquear as imagens para a minha alegria, que comemorei como se fosse um gol do Pedro, de Arrascaeta, Gerson ou do Bruno Henrique.
Como não me foi possível recuperar o áudio da imagem e a transmissão do radio estava dois minutos na frente do jogo, enquanto a voz do locutor da Fla TV dois minutos atrasada com relação ao tempo real, optei por assistir a partida sem som, vindo a ser em simultâneo o narrador e comentador da calorosa disputa.
Tudo resolvido, conforme o momento permitiu, chego a conclusão que vida de torcedor do Flamengo exige sacrifícios. Fazer o quê?