sábado, 16 de dezembro de 2023

 
VIVA O DEBOCHE
Parte I
Em algum lugar do Brasil, passado, presente e amanhã
Porto, 14 de abril de 2022
Celso de Lanteuil

Gooooollllllllllllll! Tempos de comemorar

Viva a estagnação. Viva o deboche!

Viva a decadência, o retrocesso

O atraso e o descaso. Hip. Hip. Hooray!

Viva o calote. Viva a mentira oficial

Viva o crime e a anarquia. Hip. Hip. Hurra!

Viva o desamor, a violência

E a perseguição ao contribuinte…

 

Viva o orçamento do estado gordo que não para de nos engolir

Viva o fundo partidário e eleitoral

Que se esforça para não nos deixar eleger. Hip. Hip. Hurra!

Louvor aos penduricalhos

E salve nossa rica classe política. Hip. Hip. Hooray! 

Aplausos para a engorda dos nossos homens públicos

Estes que nos comovem com sua fome voraz

E sede de beber a água de todo um rio

 

Viva o caixa dois e as rachadinhas

E o nosso jeitinho brasileiro de ser

Força para a corrupção e a improbidade administrativa

Viva a manipulação do povo. Hurra!

Vida longa ao Zé Ninguém. Hurra!

Um viva para as ideias estúpidas. Irra!

E a desumanização dos homens

Hip. Hip. Hooray! Hip. Hip. Hooray!

 

Viva a justiça para a turma do bem e o rigor da lei para a turma do mal

Depois me digam quem foram Pilatos e Barrabás

E onde se encaixam esse bem e esse mal? 

Salve o consenso entre os extremos

Esquerda, Direita, Centrão, de braços abertos

Abraçam e se beijam para eleger o macaco Tião!

Viva o país dos iletrados e dos desequilíbrios sociais. Hurra!

Viva a miséria, o desdentado, a depressão, a opressão e a humilhação…

 

Saudação à barriga que grita

E ao corpo que se arrasta  

Enquanto a cabeça olha para o chão…

Hip. Hip. Hurra!

Ovação às crianças nos sinais

Mil vivas ao salário mínimo que segue cada vez mais mínimo

Três mil vivas para a qualidade de vida nos guetos

Aplausos para as palafitas, as favelas, valas negras e lixões

 

Que tal rirmos um pouco de nós, os parasitas intelectuais

Celebremos as bibliotecas vazias, as escolas sem livros

A ausência de leitores e professores. Hip. Hip. Hurra!

Vamos celebrar a instabilidade nos empregos

E o trabalho informal… Irra!

Tempos de se comemorar as horas extras e as noturnas não pagas

Saudações aos novos paradigmas

Mais medíocres e mesquinhos. “Hip. Hip. Hooray”!

 

Vida longa aos contratos temporários. Hurra!

Roleta russa permanente, adrenalina nas veias…  

Celebração para quem foi contratado  

Paga com colchão, um prato de farinha, arroz e feijão

Você que ficou de fora, não chore não

Há para quase todos, desemprego, inflação e recessão

Que vão e voltam cheias de tesão

Loucas para nos enrabar…

 

Neste corre-corre de milhões, fervilha um caldeirão de emoções

Um viver sem monotonia, não recomendado para quem sofre do coração

Especiais vivas ao sistema financeiro. “Hip. Hip. Hooray”!

Que nos financia ao preço de uma vida

Que constrói, reproduz, certifica

Qualifica, distribui, disponibiliza

Que faz e desfaz com todos nós, sempre a lucrar mais e mais

E tudo à luz do dia, neste celebrar sem fim…

 

Hora de saudar nossa suada democracia!

Nós, obedientes ao melhor dos governos que a mentira nos deu

Entre mil vivas para nossa Justiça que conhece muito de leis

De direitos essenciais e seletividade, que pela fala rebuscada

Distante da tragédia humana, ignora o sofrimento que faz!

E, apesar do discurso de paz, da lisura dos ritos, da toga impecável

Pela postura magnânima, é muitas vezes, aquela que tropeça e faz feio

Destruindo vidas, rasgando sonhos, direitos e ideais…


Justiça precisa ao decidir, inconstante na coerência, que segue demenciada

Sem saber ao certo qual sua vocação, sua nobre missão

Nem quem é a gente que vive a sofrer…

Sobre aposentados, já foi dito e sacramentado

Não há mais o que se celebrar, estão todos a morrer!

Já viveram bastante e o estado não pode pagar

Para concluir, desejo a todos, o conforto da minha palavra

A força da minha religião para lhes trazer a verdadeira paz

 

O encontro com o salvador e o acesso ao paraíso

Portanto, sem deixar para amanhã, aquilo que o senhor pede pressa

Não deixem de contribuir com a moeda que melhor lhes servir

Aceitamos dólar, euro, libra, real e yen. Facilitamos sua bênção

Através de suaves prestações e contribuições em qualquer cartão

Recebemos em barra de ouro que podem ser entregues em mãos

Sim, aceitamos PIX e bitcoin, com a graça do senhor

Que agradecemos por proteger nossa família e nos tirar da prisão

 


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