segunda-feira, 13 de outubro de 2025

 Um Rio em Cores
Texto feito para o Sarau Poesia Andarilha
Celebrando a primavera no Rio de Janeiro, 03/09/2025

Praça do Bairro Peixoto
Árvores em tratamento
 Copacabana, 31/05/2018

Um Rio em Cores

A cidade acordou em cores
Calçadas abraçadas pelas flores
Namorados a sorrir e cantar
Afetos soltos no ar;

Mutantes a passar
Como fazem as ondas no mar
Num corre-corre de corações 
Querendo se libertar;

Passos que parecem bailar
As árvores dizem não ao asfalto
Elas crescem para o céu
Trazem suas folhas e frutos;

Flores que colorem as pessoas
Um jardim suspenso se faz
Manacás, quaresmeiras roxas
Ipês roxos e amarelos

O Flamboyant e seu vermelho-alaranjado
Trepadeiras tropicais, cachos da Lágrima-de-Cristo
Hibiscos, Buganvílias
Flores da Mata Atlântica;

Orquídeas a inventar o paraíso
Bromélias colorindo caminhos
Azáleas que invadem sentimentos 
Roxas, rosas, brancas e vermelhas;

Uma estação em cor e variados aromas
Contaminam quem por aqui passa
E fazem o medo sorrir
E fazem a dor colorir


Lá no Meio da Estrada uma Criança
Interpretação de uma fotografia de multidão
Estação das Letras, grupo de estudos supervisionado por Ninfa Parreiras
23/01/2003 

Crianças jogam bola na Ilha da Praia
Cabo Verde, 04/05/2012 

Eles foram chegando
Davam as mãos
E um a um faziam a roda rodar
E cantavam cantigas

Escravos de Jó…
É noite de São João
Carneirinho, carneirão, neirão, neirão
Cai cai balão, cai cai balão

A diversão ganhava coro
Novas vozes, novos olhares
Atentos, curiosos
A correr, a saltar 

Rostos pequenos, olhares bem vivos
Corpos a pular, gritos atrás de uma pipa
Crianças afoitas a seguir a bolinha de sabão
A pescaria, o tiro ao alvo, a corrida do saco 

Um balanço a baloiçar
Uma confusão de gente que de tanto brincar
Não viram a barba crescer
Os cabelos embranquecer

Não perceberam os seios ganharem volume
A voz engrossar  
A responsabilidade chegar
A vida se transformar em obrigação 

Lá no fundo, bem no fundo
A imaginação fazia o tempo parar
A criançada seguia a acriançar 
O adolescente a enamorar-se
 
Na profundeza de cada um, o tempo da meninice
Se brincava de ser adulto responsável, sério
E veio o tempo de dar as mãos e encostar os rostos  
De pisar num chão que não era chão, era mar 

Onde um violão se transformava numa paixão
Aquele amor distante, inatingível, abraçado
Romance de cinema
Sonho de sonhador

Lá no meio da estrada, o mundo era um coração
O desejo ingênuo, a imaginação
As primeiras festas, o primeiro beijo
Um corpo a deixar o solo que nem faz um balão

Leve, solto, sem direção 
Um sorriso dono de um mundo
Uma fantasia de vida
Onde vivia e vive uma criança


terça-feira, 9 de setembro de 2025

Dia dos pais 
Sarau Poesia Andarilha (Virtual) 
9 de agosto de 2025  

Foto de arquivo tirada de celular
Papai aos 87 anos busca o ângulo perfeito
Casa da Música, Porto, maio de 2010

Falando do meu pai
Resende, 01/08/2025

Existem, existiram pais de todos os tipos e não cabe a mim julgá-los pela vida que levaram, nem pelo que foram como pais. Posso falar do pai que eu tive, do que vi, vivi, senti, daquilo que dele aprendi e recebi. Sei que é bem diferente amor de mãe e amor de pai, ainda mais quando se é latino, aquele cuja emoção ganha dimensão diante um olhar ou aperto de mão.

Meu pai foi chão, foi mar, foi ar! Trouxe um mundo de vivências dentro dele que eu cresci descobrindo cada canto na medida em que a vida via nascer. Na base aérea de Santos as primeiras memórias, os aviões no hangar, os passeios de "Jeep", a praia das tartarugas, o primeiro contato com o mar, o cheiro de gasolina dos aviões, as nuvens e hélices em movimento que me conduziram para outros destinos e que acabaram por alterar permanentemente as minhas referências, minha capacidade de imaginar, a forma de pensar e sentir o viver. 

Minha infância ao lado de papai e do meu irmão, ficaram associadas a diversão, a passeios, as muitas idas na praia de Copacabana, ao futebol na areia e na sede de remo do Flamengo, nas regulares idas ao Maracanã e pelo convívio com a família, também habitual.

Papai gostava de música. Escutávamos em casa principalmente os discos de vinil do Luiz Gonzaga, Ataulfo Alves, Miltinho, Elza Soares, das orquestras Tabajara, do Benny Goodman, das trilhas sonoras clássicas do cinema americano, das canções românticas francesas e italianas que costumava tocar para os nossos avós nos almoços de final de semana, Henry nascido na França e Duilio que era italiano. Mas, foram nos desfiles das escolas de samba na avenida Rio Branco e nos bailes de carnaval dos clubes do Flamengo e da Aeronáutica, que papai nos apresentou para as tradicionais baterias das escolas de samba, as orquestras dos bailes, seus músicos e respectivos instrumentos, e ao rico repertório das inesquecíveis marchas carnavalescas.

Papai estava em nós, entrava dentro de nós num desbravar nem sempre fácil de lidar, pois tudo nele era intenso, com muitas reflexões, questionamentos, ensinamentos, alegria constante, muito afeto e sedução. Sua curiosidade em aprender, a vocação para ensinar e seu entusiasmo pela vida eram contagiantes, e assim seguiu ao longo dos tempos atuando em várias áreas. Durante o meu período mais rebelde da adolescência, ele demonstrou muita compreensão com as minhas inquietações, vontade de fazer o mundo e rebeldia, aproveitando cada momento em família para nos manter próximos. 

Quando estava presente era inteiro e apoiava minhas experiências acadêmicas e esportivas. Ao optar por seguir a profissão que ele havia sido pioneiro na Força Aérea Brasileira, compartilhou seu conhecimento de aviador comigo e me ajudou a amadurecer, convívio esse que me trouxe muito aprendizado teórico e prático. Sim, papai desde quando éramos bebês, nos colocou nas cabines dos PT19, NA-T6, Regente Elo, Jatinho Paris e DC3, o icónico C-47 e foi isso que fez meu irmão e eu gostarmos de brincar de pilotos quando crianças.

Papai foi muitos em uma única pessoa e alguns desses personagens ficaram dentro de mim e ainda hoje me sacodem o corpo e me levam a voar ao seu lado para distantes destinos, escutar animadas canções, assistir os emocionantes jogos do Flamengo, estar próximo dessa gente querida que me viu crescer e tanto me amou e amei, emoções que ainda hoje me levam a cantar ao seu lado, "Tem boi na linha, tem, tem, tem. Tem boi na linha Catarina vai no trem"; "Eu vou pra Maracangalha eu vou. Eu vou de chapéu de palha eu vou. Se a Anália não quiser ir eu vou só..."; "O Rei Zulu, o Rei Zulu, não paga casa nem comida e anda nu..."; "Procurei, procurei, de lanterna na mão, procurei procurei e achei, a dona do meu coração. E agora, e agora, eu vou jogar a minha lanterna fora"; "Quando oiei a terra adentro, qual fogueira de São João"... e tantas outras canções que ainda fazem eco dentro de mim e do meu irmão.

Gostávamos de ver papai analisar o comportamento das pessoas de forma positiva e cômica, com aquele seu peculiar olhar crítico, tecer comentários sobre os personagens da politica nacional e do cotidiano, mas vê-lo contar piadas e casos da aviação era um momento de grande entretenimento para nós. Com o passar dos anos, mamãe começou a pegar no pé dele por conta das piadas que ela escutava há décadas, compreensível, piadas que hoje eu daria tudo que tenho para ouvi-lo contá-las novamente.

Ainda hoje, volta e meia escuto sua voz a cantarolar uma canção do rei do baião, de Bing Crosby, Nat King Cole ou Ataulfo Alves, hábito que tinha enquanto tomava seu banho ou fazia a barba. Em outras ocasiões vejo ele diante de mim em tom de espanto a me dizer: “Celsinho, meu filho, você não imagina como essa cidade está. Perdeu-se o respeito entre as pessoas por todos os lados que se vá!” Papai foi homem de buscar soluções, de resolver problemas, de ajudar sem nada em troca pedir, de abraçar negros, índios e nordestinos, e pelo que foi e realizou, vejo ele por todos os lados com seu dinamismo e vontade de contribuir, de socorrer as pessoas, as desconhecidas e aquelas muito próximas. Sobre seus defeitos, quem não os têm?


Aos 87 anos... Falar o quê?


sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Arraiá Poético da Poesia Andarilha


Artista @SR.MAYA7 (15/09/2024) 
traz sua arte para o cotidiano das pessoas
Boca do Lobo, galeria que conecta a rua Santa Clara com a praça Edmundo Bitencourt, mais conhecida como praça do Bairro Peixoto, localidades onde passei grande parte dos meus mágicos anos entre a infância e primeiros anos da fase adulta

Arraiá Poético da Poesia Andarilha
Leblon, 08/06/2025

Uma gripe me abraçou esses dias e apertou meu corpo até imobilizar meus movimentos. Doíam ossos, músculos, me escapava a respiração, a vista escurecia, as ideias adormeciam e o corpo não conseguia sair do colchão. No dia seguinte, me sentindo melhor, fui ao “tubo” ver o Arraiá Poético da Poesia Andarilha, tentando recuperar a energia perdida, reencontrar as vozes andarilhas e saber das novidades; dos quitutes, das prendas, das tradições, das músicas festivas, da poesia em formato de saia rendada, do chapéu de palha, das rezas para Santo Antônio; e ver como esse encontro virtual celebrou a festa de São João. 

E não é que a maravilha desses andarilhos que vivem contentes abraçados na escrita, nessa construção contínua que faz tradição viver, e revivem cantiga, e dançam quadrilha mesmo se diante de uma tela, uma gente que solta balão na imaginação, nos fazendo pular fogueira em pensamento e voltar no tempo com a mente e o coração. 

Pessoas que gostam de bordar e colorir as praças da cidade com barraquinhas e bandeirinhas, de fazer quentão, canjica e caldinho de feijão. E, brincar de pescaria, corrida no saco, de malhar o Judas, quebrar moringa com uma venda nos olhos e morder maçã pendurada pelo barbante! 

Pois não é que diante da tela do telefone coloquei minha fantasia e encontrei nas vozes andarilhas a magia das palavras que criam sonhos, celebram o viver e fazem o virtual virar emoção em forma de poesia, canto, dança, ternura e melodia. Pessoal bom esse que sabem fazer a vida acontecer mesmo quando estão bem distantes da gente.  















terça-feira, 12 de agosto de 2025

Para o amigo Savinho

Arquivo pessoal. Foto de celular 
Foz Velha, Porto 2025

Algumas palavras que eu precisava dizer
Resende, 12 de agosto de 2025

A falência de uma grande companhia, como aconteceu no caso da Varig, não desapareceu apenas com uma das mais antigas empresas de aviação do planeta. Além de afetar a vida econômica do Brasil em muitos aspectos, ao desconstruir uma complexa atividade de negócios cujos efeitos ainda hoje se observam no transporte aéreo do país, revelou seu lado perverso com o não pagamento das indenizações trabalhistas e previdenciárias de seus funcionários até a presente data, e já se passaram 19 anos! A falência dessa intangível marca também destruiu uma densa rede de relacionamentos, onde as características comportamentais de cada pessoa tinha um peso e importância na cultura social de diversos ambientes de trabalho que constituíam o grupo Varig. 

Assim aconteceu no caso dos aviadores, categoria de profissionais que muito aprendem com seus próprios erros, que na troca de experiências operacionais nos faz melhor preparados e próximos, muitas vezes íntimos ao vivenciar situações não normais em voo, emergências mais complexas, num ambiente de trabalho favorável a criação de laços afetivos que ultrapassam fronteiras e perduram mesmo com a distância que o viver constrói.

E assim foi para o amigo Comandante Domingos Savio Barreto de Andrade Junior, o nosso Savinho, o amante de uma das mais lindas profissões que ambos tivemos a oportunidade de compartilhar. Conheci o Savio quando éramos copilotos em meados dos anos 80, encontro que aconteceu na cabine de um Boeing 737-200 da Cruzeiro do Sul, na época já incorporada pela Varig. Eu seguia como “tripulante extra” retornando de um voo para casa e assisti Savio executar com precisão a aproximação Charlie 2 para pouso na cabeceira 15, no antigo aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro. Naquele momento percebi seu entusiasmo pelos aviões que era contagiante e logo nos fizemos próximos. Savio era muito educado e pude constatar ser uma pessoa que gostava de se comunicar e fazer amigos. Com a criação do Aerus, Instituto de Seguridade Social, muito dos pilotos então ativos puderam se aposentar mais cedo com a ajuda dessa complementação salarial e como consequência, a carreira dos pilotos mais jovens ganhou um grande impulso, nosso caso. 

Em inúmeras ocasiões Savinho e eu estivemos juntos, e em pouco tempo como comandantes em encontros corriqueiros nos DOs (Despachos Operacionais), em pernoites pelo Brasil e terras estrangeiras, durante a troca de aviões, no prédio da Varig localizado na área do aeroporto Santos Dumont, em salas de aula no CTO da Ilha do Governador (Centro de Treinamento Operacional), nas assembleias do sindicato (SNA) e da Associação de Pilotos (APVAR) quando trocávamos impressões e dividíamos nossas apreensões, como aconteceu em algumas greves da categoria, na parada da instrução de voo e no acidente do VMK, ocasião em que ele tentou ajudar os tripulantes daquele voo com trágico desfecho, realizando trocas de mensagens via rádio entre eles e o órgão de tráfego aéreo mais próximo ao qual mantinha contato e a outra tripulação não. Mas, foi na crise do FAD (Fundo de Auxilio Desemprego do SNA) que resultou na perda das nossas reservas de poupanças e prejuízo para a maioria dos seus associados, que nos aproximamos ainda mais ao fazer parte da comissão eleita pela categoria para ajudar na reestruturação daquele fundo.

Savinho viveu para servir a esposa Marisa e suas duas filhas que tanto amou. Elas eram sua principal bússola. Também deu o seu melhor para a aviação e cuidou dos seus cães como filhos. Segundo me contou, nas suas folgas gostava de assistir um filme em ambiente bem refrigerado, congelante para muitos de nós pois sentia muito calor. Era fã do cineasta George Lucas e das “sagas” Star Wars” e “Star Trek”, e adorava o personagem “Senhor Spock”, nome que acabou por colocar em um dos seus cães, “filhos”, como se referia ao Spock Savio Terceiro e demais. Em uma viagem de trabalho que fiz com o amigo Cmte Jorge Calvet para Miami, ele nos surpreendeu acompanhado de um copiloto de 767 que infelizmente não me recordo o nome, ambos viajando como passageiros GC, passagem de “cortesia sujeito a espaço”, para assistir ao lançamento de um dos filmes da série Guerra nas Estrelas. Segundo Savio, tripulação escolhida por ele após consultar a escala, surpresa que muito nos agradou. Acabei por acompanhá-los naquela viagem cinematográfica repleta de efeitos especiais, personagens exóticos e temas filosóficos como os embates entre o lado da luz e o das trevas, liberdade versus repressão, e sobre a redenção, assuntos que ele tanto prezava. Falar do Savinho é uma oportunidade para se celebrar a vida de alguém que nos ofereceu muitos sorrisos, muitas agradáveis memórias, é lembrar de um amigo “ingênuo” como muitos de nós poderíamos ter sido. Savinho viveu para ajudar, para servir, amar e compartilhar boas memórias. O vídeo em sua homenagem que as filhas lhe presentearam quando guardou suas asas no hangar da vida, lhe causou grande orgulho e sentimento de reconhecimento. Savinho cumpriu muito bem sua jornada entre nuvens e estrelas, nascer e por do sol, e o amor que transportava lhe permitiu cruzar em melhores condições as tempestades da vida. Ficaram as boas lembranças e sua pureza, imagens que guardo do querido Savio.  

 

terça-feira, 15 de julho de 2025


Pen Sa men tos s o l t o s

 
Um Sapo Sábio
Pintura do talentoso Heitor Corrêa

Pen Sa men tos s o l t o s

Sonhando acordado (01/09/2024)
Sonhador que sou, vejo meus sonhos passarem;

Polaridade (14/09/2024)
E a polaridade não para de crescer 
E aquilo que é preciso ver ninguém vê

Na falta de... (11/12/2024)
A ausência de uma boa opção
Torna o mais ou menos uma escolha
Na falta de um mais ou menos
Pode-se abraçar o menos ruim
E este princípio
Pode nos levar a deitar com o nosso
Inimigo

Fatos rasos, Pinguim Café, 30/12/2024 
Com essa vida apressada
As covas ficaram rasas
As ejaculações precoces
Estão ainda mais precoces
Os sorrisos economizados
Curtos, corridos
Os abraços pela metade
Breve calor
As vozes velozes
As histórias encurtadas
Os textos mínimos
Porque a pressa aperta
E não espera
Até os sonhos correm
E vão ficando diminutos... 

Um imigrante, 31/03/2025
Um imigrante
Ou se fortalece
Ou desaparece;


 



 

quarta-feira, 9 de julho de 2025


Um PenSaDOR minimalista e seu Haiku fora da regra

 Um amigo que quer estar junto
maio de 2025

Um PenSaDOR minimalista e seu Haiku fora da regra!
(Haicai na lingua portuguesa)
Resende, dias seis e sete de julho de 2025

A ideologia sufoca a imaginação;

Pegadas pelo caminho
Vários amigos
Pedaços de mim; 

A vida é como água
Água de rio que seca
De repente, a última gota;

O sabor é agora
Natural é a prova
O momento é seu;

Quem não entende?
Sou eu, o ignorante
Só sei copiar e repetir;

Morrer, todos iremos
Aceito bem esse “The End”
Mas sindicato de mortos, não!

No espelho
As minhas máscaras
Querem protagonismo; 

A obra-prima
Em lábios, cabelos e quadril
Sorriu pra mim;

Três em um. Obsceno na postura
Indecente na fala
Lascivo no compromisso;

A realidade não faz cerimônias
Joga sujo, faz covardia
Trapaceia, corrompe e mata;

Há doutores e doutores
Uns buscam a cura
Outros tratam das dores;  

A alegria só existe
Por causa da tristeza
Que por vezes cansa de ser protagonista …

Pensamentos Soltos


Ainda tentando fazer uma galinha...
 
Pensamentos Soltos, de 29/05 a 24/06/2025
O pássaro arranhou a voz
Excesso de CO2;

Quantas vezes a chuva foi o meu palco;

No momento da fotografia ela comentou que o sorriso franco provoca rugas, 
"é melhor contê-lo", disse.
Eu e a minha cara cheia de marcas, abri a boca e mostrei os dentes.
O que custa uma ruga para valer mais que um sorriso? 

Brinquei de viver até onde deu
Agora vai ser pra valer
Brincadeira de terceira idade;

O pássaro da cidade grande, com crise de bronquite crônica
Sem plano de saúde e receita médica
Compreendeu o drama do sem-abrigo;

Leva-se tempo para desenvolver a imaginação livre
E, é preciso ser ousado
Para se conseguir voar
De inúmeras maneiras; 

O cão latiu
E eu entendi 
Que ele queria companhia;

Nem toda hora é tempo
Algumas são passagens
Paisagens, descanso, vento
Pássaro em movimento;

Minha validade está marcada
E não se aceita trocas...


sexta-feira, 2 de maio de 2025

Preciso me Revelar

PZC Porto Zine Club #4
Incrível Ilustração de Heitor Corrêa (heitorcorreaart)
Mais uma parceria, sorte a minha

Preciso me Revelar
Texto de Celso de Lanteuil 
Porto, 08/02/2025
celso_dl (Instagram)
Celso DL (Youtube)

Eu quero te dizer, preciso me revelar
Falar das minhas estradas
Da minha revolução
Do samba que me carrega
Do rock que me salvou
Das vozes que me transportam
Da lua que me inspirou;
 

Eu quero te dizer muitas vezes
Para que você possa 
Melhor me compreender
Das malas que transportei
Dos sonhos que nelas trouxe e levei
Das amizades que fiz
Dos amigos que não mais estão por aqui; 

Preciso te dizer que vale a pena
Que nada é pouco ou pequeno
Tudo e todos que nos rodeiam são uma boa razão
E, se do passado nada se muda 
E o amanhã é uma possibilidade
O agora é o nosso momento
Movimento de renascimento e libertação… 

 




domingo, 20 de abril de 2025

Foto de celular, Flamengo x Corinthians, 1x0 gol do Imperador Adriano, Maracanã 09/08/2009

FLAMENGO E VASCO COM 4 HORAS DE FUSO A MAIS
Celso de Lanteuil
Porto, 19 de abril de 2025

Assistir o Flamengo jogar contra o Vasco, um clássico do futebol nacional, principalmente para torcedor carioca, vale qualquer sacrifício pois sobram histórias para se compartilhar entre amigos e adeptos dessa tradição esportiva. E, apesar da indústria despudorada que explora e manipula atletas, profissionais do esporte, grupos de pessoas e comportamentos, dos gestores “politiqueiros” que fazem negócios bilionários, dos marqueteiros sem limites éticos e de torcedores fanáticos e raivosos, o futebol segue emocionando multidões e mexendo com a paixão de tanta gente, inclusive a minha.

Muito já se falou e se escreveu sobre o futebol, e sobram bons livros de consagrados autores como Mário de Andrade, Mário Filho, Lima Barreto, Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues, Eduardo Galeano, a lista é de fato grande. Tudo para nos contar casos curiosos sobre o esporte Bretão, razões suficientes para que o futebol siga sendo estudado com a devida seriedade que demanda, seja por antropólogos, sociólogos, cientistas sociais, psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, historiadores, profissionais de ciência politica, da área de educação física, do direito e jornalismo desportivo, da gestão de recursos humanos e outras especialidades mais pois são muitos os interessados que desejam ter voz, inclusive aqueles que odeiam o futebol e veem neste um caminho para a alienação, e muitas vezes uma máquina de manipulação política e de controle da cidadania.  

Retornando ao jogo de ontem que teve as tradicionais tensões de um grande drama e respectivas fortes emoções, deixarei a análise do jogo para os analistas esportivos e vou me ater a minha condição de expectador, que tentava através de um “streaming” (plataforma de transmissão em tempo real) gratuito, assistir o jogo, ocasião em que me deparei com uma verdadeira batalha enquanto tentava baixar o conteúdo anunciado como grátis. 

Entre bloqueadores que não permitiam o meu acesso a transmissão da partida, os constantes “sites” de apostas, a venda de produtos inclusive de pornografia que me assediavam, passei todo o primeiro tempo do jogo em intermináveis tentativas para obter a tão desejada imagem, enquanto conseguia escutar a transmissão através de um radio digital, versão moderna do antigo radio de pilha que conheci quando era criança e que faziam parte das rotinas nas residências, bares, parques e praias, e também no então maior estádio de futebol do mundo, o nosso Maracanã.

Conforme minha irritante insistência encontrava uma cada vez maior resistência para lidar com aquela intermitente estabilidade, quiçá devida ao acesso em simultâneo de milhões de torcedores do Flamengo e Vasco, além daqueles que torcem contra, estes espalhados pelo planeta, no início do segundo tempo quando já aceitava bem aquela situação, meu filho surgiu na sala e resgatou minha dignidade, removendo aquele sentimento de frustração que tanto me atormentava, quando finalmente conseguiu desbloquear as imagens para a minha alegria, que comemorei como se fosse um gol do Pedro, de Arrascaeta, Gerson ou do Bruno Henrique. 

Como não me foi possível recuperar o áudio da imagem e a transmissão do radio estava dois minutos na frente do jogo, enquanto a voz do locutor da Fla TV dois minutos atrasada com relação ao tempo real, optei por assistir a partida sem som, vindo a ser em simultâneo o narrador e comentador da calorosa disputa.

Tudo resolvido, conforme o momento permitiu, chego a conclusão que vida de torcedor do Flamengo exige sacrifícios. Fazer o quê? 

segunda-feira, 24 de março de 2025

deixa ENTRAR o AMOR



Serralves em Festa, 2022
Foto de arquivo


Deixa ENTRAR o AMOR
Celso de Lanteuil
Porto, 02/12/2017

Deixa entrar o amor
Abre a porta
Deixa ele se encostar  
Vai com ele 

Ele fica cantando na gente
Fica pulando pra fora
É sorriso que dança
Uma vontade que abraça

Deixa entrar o amor
Abre a porta
Deixa ele se encostar 
Vai com ele 

Ele colore o teu rosto
Também constrói boas horas
E te deixa flutuando
Compreendendo outras vozes 

Fica sorrindo por dentro
Segue dançando nas calçadas
Pensando que é o vento
Achando que é alvorada 

Deixa entrar o amor
Abre a porta
Deixa ele se encostar 
Vai com ele 

 

quinta-feira, 20 de março de 2025

Nave Terra E A difeReNÇa


Arte Urbana de Heitor Corrêa
Galeria Circus Network, Porto
@heitorcorreaart


Nave Terra e a Diferença
Celso de Lanteuil
Porto, 18/10/2017

A gente briga
A gente explode
E se irrita
Porque entende
Que a vida é 
Como a gente sente 

A gente fala
Aquilo que acha
E não percebe
A diferença
Um imenso Cosmos 
De sentimentos 

E a nave terra
Segue com a gente 
Essa gente da terra 
Tão diferente e a gente grita 
Porque não compreende 
A diferença


 


segunda-feira, 3 de março de 2025

Em terra SEM LEI, o diabo é Santo

Artistas de rua aquecem os dedos 
Eles nos ajudam a esquecer nossos medos
Fotografia feita de um celular, com autorização dos músicos


Em terra SEM LEI, o diabo é Santo
Sobre manipulação e aceitação
Porto, 24/02/2025

Atualmente
Um vídeo editado 
Hábito corriqueiro
Induz o observador ao erro;

Que aceita a calúnia, a injúria
A difamação, uma infração mentirosa
Na sociedade que produz ignorância
Violência, corrupção, miséria, medo;

Uma subnutrição que cresce
O trabalho infantil que vira rotina
Estatísticas da educação
Que as tecnologias de ponta escondem;

Notórios crônicos problemas
Gestores públicos fazendo mal ao Brasil
O eterno país do amanhã
Do futuro promissor que nunca chega;

Terra onde o egoísmo aprisiona
E as injustiças proliferam
Onde abunda a precária cidadania
A angústia de um povo trabalhador;

Na busca de uma realidade mais humana
Um poder ir e voltar para casa sem medo
Acho melhor eu parar por aqui
Porque poucos querem falar de espelhos... 


Um poder, ir e voltar para casa sem medo
Mas é melhor eu parar por aqui
Porque poucos querem falar dessas coisas...

 

 

Um poder, ir e voltar para casa sem medo
Mas é melhor eu parar por aqui
Porque poucos querem falar dessas coisas...

Um poder, ir e voltar para casa sem medo
Mas é melhor eu parar por aqui
Porque poucos querem falar dessas coisas...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025


 mudanças E pensamentos

Um amigo improvável que foi ficando por aqui desde a pandemia
Ele vai e volta. Vai e volta, 2022


mudanças E pensamentos
Celso de Lanteuil
22 de Junho de 2011, revisitado em 13/11/2022
Nestes 11 anos, poucas coisas mudaram na sua essência

O Sol parou de iluminar, novos geradores assumiram suas funções
O Sol não está mais lá. Não precisamos mais do Sol na nossa estação Terra
Muitas vozes silenciaram. Muitos smartphones falam por elas
A moça bonita acredita que enfeiou
O buraco na calçada aumentou de tamanho e engole gente

Inventaram uma nova arma
É a morte cirúrgica, feita c
om precisão
Mata no local e hora exata
Quem mata, pode estar a quilômetros de distância
É o progresso! Fecharam mais duas livrarias...

Vacas em greve não produzem leite!
Uma das cordas da guitarra arrebentou 
A seletividade aumenta
Meu amigo voltou a fumar, bom para quem vende cigarros
Ele fuma e anda, fala e fuma, fuma e bebe, come e fuma

Toneladas de peixes pararam de nadar. Estão nas redes
Ela continua a me olhar do mesmo modo que sempre me olhou
Me dá a mão e me beija do mesmo jeito
Reclama das mesmas coisas e com razão
Eu sou pedra, sou ave, sou nuvem, sou rio, sou mar

Fico bem onde estou, mas gosto das estrelas
Nós temos um super gerador no lugar do Sol
Uma voz canta 
É a moça feia que descobriu sua beleza
Ninguém tampa o buraco da calçada

Uma vaca furou a greve e deu leite. Está no Twitter 
Algumas crianças estão sendo crianças
Outras tem uma pistola nas mãos
Uns poucos adolescentes ainda podem ser adolescentes
A justiça autoriza

Alguns adultos seguem sendo adolescentes
Outros não passam de crianças
As minas das guerras de Angola, do Afeganistão, da Síria, da Ucrânia
As minas das guerras que virão
As minas esquecidas, decepam muitos sonhos 

O circo chegou. O palhaço chora e a audiência ri!
Um jardim com flores de plástico enfeita a paisagem
O espelho não reproduz sua imagem e você nada percebe
Suas palavras e ideias são observadas atentamente
Não faltam juízes a espreitar, tempos de fofocas digitais

O mundo rapidamente diminui de tamanho. O monitoramento aumenta
Robôs divulgam boatos. 
Eu tenho um controle nas mãos
Penso que escolho o que leio, como, bebo, canto, sinto 
Nas midias sociais, grupos interpretam os meus algoritmos
Dentro deste enorme labirinto, penso ser livre

sábado, 18 de janeiro de 2025

ciclos NÃO naturais

Tentativa de fazer uma galinha colorida, 2022
    

ciclos NÃO naturais
Porto, 22/08/2022
Após ler os Prefácios sobre Gilberto Gil, em sua obra 
Verso a Verso, Gil em Verso, Edições Quasi 2006

Eu canto a vida que encontro
No ritmo que o coração comanda
Atento para saber reconhecer
As mudanças que fazem
A vida nascer e morrer

A força do conhecimento
Nossas vivências
Transformam nossa percepção
Nos mostram o estrago que avança
Ruína que nasce de um consumo sem freios 

Os peixes que crescem num rio
As árvores que filtram o ar
Fornecem alimentos vivos
A sombra que nos traz a paz
Uma relva que nos massageia os pés

A chuva que purifica a terra e o caminho
E desconstrói tantos desequilíbrios
Esta cegueira que a todos nos pega
Desordem que nos destrói
Uns já agora, outros um tempo depois 

Plásticos são compostos complexos
Avançam pelos mares e terras
Asfixiam por onde ficam
Resistem, se ajustam, se infiltram
E recriam novos ciclos

Peixes, aves, gatos
Cavalos, coelhos, cães
Vacas, galinhas, porcos, ovelhas
Engolem pedaços de plásticos
Sacolas, embalagens, potes, escovas...

O lixo que produzimos em casa
Pode dar a volta ao mundo
Pode engasgar um salmão
Que acabe no seu prato
Sua melhor refeição

Nessa negação que nos aprisiona
E nos faz enxergar não mais que
Um palmo diante de nós
Vamos avançando
Modificando e sendo modificados

Pensamos ter respostas
Para tantos desequilíbrios e perturbações
Apesar de só enxergarmos a superfície Imediata... Aquilo que nos mostra
O primeiro plano de uma fotografia

E seguimos a produzir muito lixo
O consumo da nossa história
Sem perceber a sujeira que nos cerca
Que entranha dentro de nós
Plastificando sonhos, ideias e ideais